11/12/2009

PALESTRA

A Brasil Telecom implantou um ciclo de palestras direcionadas ao grupo de gestantes da empresa. Buscaram profissionais que pudessem oferecer temas relacionados, procurando levar esclarecimento e reflexões. Foram assuntos que propiciaram a oportunidade de trocar experiências e parar para pensar sobre este momento do ciclo vital que estão vivendo. Não existe segredo nenhum numa gravidez, e desde que o mundo é mundo as famílias são formadas e bebês nascem. O que existe é desinformação, uma realidade diferente na composição familiar atual, além da demanda de diferentes focos de atenção que envolvem o período gestacional. Dentro dessa perspectiva, ao ser convidada para encerrar o ano de 2009 fechando assim o ciclo de palestras do Programa Gestação Saudável, propus um tema informativo, que provocasse uma reflexão conjunta sobre algumas questões tão corriqueiras, que na maioria das vezes, por serem tão óbvias, parecem fazer parte da vida. E assim incorporadas ao sistema, deixam de ser vistas sob outro ângulo. A proposta preventiva é adiantar-se ao "problema", desenvolvendo estratégias de enfrentamento, antecipando boas soluções que podem contribuir para a não entrada de conflitos relacionais que afetam ainda mais o estado emocional que envolve os jovens pais no desafio das adaptações que a chegada do bebê impõe a esta família. Por acreditar nos trabalhos de prevenção, optei por usar este espaço que me ofereceram para levar o tema conseqüente da gravidez: o nascimento do bebê e os primeiros meses de adaptação dessa nova dinâmica familiar. Como a maioria das gestantes tem seus companheiros e está na primeira gravidez, o foco foi o nascimento do primeiro filho, assim como direcionou-se para um casal. As questões particularizadas puderam ser abordadas através das perguntas que surgiram, esclarecendo minimamente, infelizmente sem possibilidade de maior aprofundamento.
Antes mesmo da chegada do bebê o casal já se percebe como pais, ampliando assim seus papéis nesse sistema familiar. Diante dessa realidade, partimos do fato de que antes havia um homem e uma mulher, que se tornou um casal, e agora são um pai, uma mãe e um filho. Sabendo que o tema é mobilizador e poderia levantar o desejo de aprofundar o entendimento das futuras mamães, optei usar como guia do assunto que desenvolveria no nosso encontro um livro de fácil acesso e leitura, escrito por três mulheres que discutiram na época de suas vivências particulares situações semelhantes a todas as gestantes.

Fiquei imensamente grata por poder falar sobre um tema que gosto muito, família, e inserir-me nesse contexto como mulher, mãe, sogra e no tópico avó, realidade atual do meu sistema familiar. E honrada por fechar o ciclo do Programa. Meu respeito pela iniciativa da empresa e agradecimento à equipe coordenadora do Programa, que conta com uma funcionária que descobriu-se grávida de 8 semanas, Telma. Minha gratidão pela acolhida de vocês e das gestantes das duas Unidades.
Posteriormente disponibilizarei algumas fotos do evento, aguardando o envio pelas responsáveis.

O tema proposto por mim foi "Um bebê a caminho. O que fazer?", baseado no livro Casamento à prova de bebês, das autoras Stacie Cockrell, Cathy O'Neill e Julia Stone - Ed. Sextante, 2009.
Abaixo, dividido em tópicos para suavizar a leitura e facilitar a localização através da especificação do assunto abordado.

"Um bebê a caminho. O que fazer?! - Abertura

Ter filhos muda tudo!

Depois que o bebê nasce, alguns problemas aparecem, e nem todos podem ser evitados, como a reviravolta das emoções que são novas como a fase que a família vivencia, muda o estilo de vida. Mas não há culpados. Há diferenças. Homens e mulheres são diferentes, e não reagem da mesma maneiras às funções de pai e mãe. Não sabem como agir e nem como se sentirão depois que nascer o bebê. A maioria fica perdido diante da avalanche de mudanças que vem junto com a chegada do bebê. Fomos acostumados a ver a gestação como o período da plenitude da vida, e de fato o é, mas não nos preparam para a maratona que virá.

O período da gestação poucas vezes prepara o casal para a chegada em casa com um recém-nascido. É um tempo de preparação mais focado em ações práticas, além da "curtição" dos futuros papais e seus familiares e amigos. Reunindo as melhores intenções de serem os melhores pais que conseguirem, constroem expectativas envoltas na ansiedade da espera para cumprirem essa responsabilidade que consideram grande, apesar de linda.

Quando os primeiros dias - que transcorrem envoltos no ir e vir de visitas, presentes e natural extasiamento de todas as pessoas próximas que participam desse processo - passam, e os jovens pais se vêm diante da realidade do dia-a-dia tumultuado pela necessária adaptação dessa fase nova. De tão envolvidos, raramente percebem algumas situações-problemas se instalando; mas sentem com clareza seus sentimentos apontando em pequenas direções:

Por que discutimos tanto?
Por que não conversamos mais como antes?
Por que ficamos irritadas quando eles demoram tanto para achar a chupeta?
Por que tenho crises de choro que não controlo?
Por que ele me olha atravessado mas não diz nada?
Será que somos o único casal que não faz sexo?
Seremos os únicos que não conseguem dar conta de tudo?
O que está errado conosco? O que está acontecendo, afinal?

Levantar algumas reflexões é abrir caminho para, se ou quando acontecerem dificuldades, o casal possa identificar e resolvê-las. Esta é a proposta, e para viabilizar a antecipação aos comuns fatos com que se depara o casal e suas conseqüentes armadilhas, segue a escolha de alguns tópicos básicos para auxiliar no início dessa compreensão.

"Um bebê a caminho. O que fazer?" - Sogros e avós

Agora é nossa vez de ser pais!

Avós prestativos demais costumam criar situações de conflito entre o pais do bebê, além do desconforto que geram no relacionamento com nora e genro. Claro que querem ajudar, porém, por mais maravilhosas que possam ser suas intenções, interferências mais atrapalham do que ajudam. Magoar quem está cheio de amor pra dar, não dá. O que fazer então?

Queixas costumam não ter bom resultado, principalmente se é feita para o filho - ou a filha - dos avós palpiteiros. "Tua mãe está passando dos limites" pode ser uma sentença perigosa, provocar uma discussão inútil e desencadear emoções negativas. Se houver desde o início uma boa comunicação, as partes deveriam aproveitar para fechar alguns "contratos" muito úteis no futuro. As decisões tomadas em conjunto vão definir o espaço que o casal pretende delimitar. Ambos devem conversar e estabelecer seus critérios, ajustando seus pensamentos e sentimentos sobre o que podem conceder sem prejudicar suas opiniões sobre como pensam em educar seus filhos e de que maneira o farão. Claro que contar com a experiência das avós é importante, mas em alguns casos, com a ansiedade de ajudar - e porque não, de curtir seu novo papel - elas acabam invadindo a privacidade destes pais, esquecendo-se de que elas mesmas tinham suas restrições quando eram as mães. e, apesar de jovens e cheias de dúvidas e inseguranças, elas encontraram seu jeito de ser mãe.
O casal pode conversar carinhosamente e com respeito com suas mães e pais, e, com suficiente clareza e tato, deixar claro o que será bem-vindo e o que não será permitido. Os jovens pais não precisam tolerar a invasão silenciosamente, porque em algum momento se rompe essa boa vontade e tudo que vai sendo reprimido, tenderá a ser despejado num fôlego só. Evitar esse desgaste extra - o casal terá suficientes situações para lidar - contribui para preservar as relações familiares no geral.
Dizer o que sentimos de coração aberto, tende a informar e aproximar as pessoas, que saberão até aonde poderão ir. Mesmo que surpreenda a iniciativa da conversa, todos poderão usufruir de um melhor resultado depois. Talvez a habilidade em expor o que precisam comunicar seja ainda mais importante do que o conteúdo das palavras, então, a recomendação é usar termos carinhosos, adotar um tom de voz que mostre o desejo concliador da conversa, antecipando a compreensão de que as sugestões que trazem (ou trarão) visam somente auxiliá-los, mas que desejam eles mesmos decidir pelo que acreditam ser o melhor. E assegurar que em tudo que precisarem, recorrerão a eles (porque certamente o farão!), agradecendo muito o amor, a intenção de ajuda, mas ao mesmo tempo esclarecendo e compondo sua nova família segundo um modelo que deverá acolher aspectos de ambas as famílias de origem do casal, retocado pelos aspectos que eles imprimirão enquanto diferentes pessoas e visões.

"Um bebê a caminho. O que fazer?" - Mudanças

O que aconteceu com o tempo?

Talvez a principal mudança que fique visível é a de que não dá tempo para mais nada que não seja descansar quando o bebê dorme. A energia que envolve os afazeres do dia-a-dia chega minguada no final da jornada de um dia de total dedicação aos filhos, à casa.
As tarefas cotidianas vão se acumulando, concorrendo com o tamanho do cansaço. Quando se dá conta, a roupa dentro da lavadora está embolada e mal cheirosa pelas horas em que já completou o ciclo de lavagem, mas foi esquecida lá dentro. Roupas sujas e limpas vão erguendo pilhas na lavanderia, parece que nada mais pára dentro das gavetas. Como um ser tão pequenininho pode usar uma casa toda? sim, porque os objetos começam a se espalhar, aumentando a bagunça enquanto diminui a energia. O corpo reclama repouso, enquanto repetidos esquecimentos ou repetições das recomendações e queixas mostram que é preciso dar uma paradinha, desacelerar, mudar o ritmo.
Mas parece não haver mais possibilidade de ter momentos de laser ou prazer, e assim não recarregam as energias suficientemente para evitar o estresse e a intolerância com as manias do cônjuge.

O que aconteceu conosco?

O homem se pergunta onde foi parar aquela mulher meiga e alegre que cuidava dele, da casa, trabalhava fora e tinha uma energia inesgotável. Estava sempre disposta para sair, cheirosa e vaidosa cuidava da aparência, fazia questão que ele também estivesse usando roupas combinadas e limpas.

A mulher olha para o estranho que não a ajuda como ela esperava, não conversa mais com ela e não se esforça para entender seu cansaço e se pergunta onde andará o seu amor que a cativou com atitudes de atenção e carinho.
Os pais sempre vão querer o melhor para seus filhos, e farão de tudo para vê-los felizes. Cultivar a relação conjugal é de extrema importância para que os filhos se sintam seguros e felizes. O relacionamento entre o homem e a mulher é a base da família, e quando essa base não está firme, o mundo da criança se desestabiliza.

O que podem fazer?

Nesse período de ajuste das novas necessidades, é bastante comum o casal, que se tornou pais, se afastar um do outro. O volume das reclamações costuma decorrer da expectativa alta de compartilhar tarefas, no entanto, o casal esquece de estabelecer acordos. Tal como sugerido que fizessem com os avós, antes de tudo o ideal é estabelecer seus acordos internos. A comunicação falha é aquela que supõe, que imagina que o outro sabe o que você deseja. O casal parte do princípio de que o outro vê, entende e deveria acatar e providencias as soluções daqueles problemas que lhe parece tão visível. Nem sempre é, e tudo o que é posto para o outro, com clareza, abre o caminho para esta compreensão.
Se a vida que o casal tinha, mudou, e não dá para querer o que tinham antes, é saudável lembrar que muita coisa pode ser feita, e grande parte delas é simples. O fundamental é não esquecer que fazer um pouquinho já ajuda muito, e o que importa é querer e ter atitude. Também é importante não esquecer que é só uma fase, e vai passar. a transição para a nova realidade do casal quando tem filhos é uma das fases difíceis que um casamento enfrenta.
Nesse aspecto, o indicativo principal é da intimidade do casal, que fica temporariamente suspensa, simplesmente porque é um período em que toda a energia parece ser consumida pelo bebê, e quando sobra tempo, os pais dormem para recompor do cansaço. Além disso, a libido fica alterada, porque o corpo está num processo que depende do tempo para voltar a ser desejável. Na percepção feminina, ela está flácida, abatida e feia - enquanto para alguns homens pode ser difícil tocar na mulher que cheira a leite, cujos seios tem que dividir com seu filho. , embora a deseje como sua mulher. Sem esquecer dos casos de cesariana, que deixam a mulher em "resguardo" temporário. Fatores não faltam para estas dificuldades ocorrerem.

"Um bebê a caminho. O que fazer?" - Mudanças

Entendendo as mudanças...

Nsse período que costuma compreender os primeiros três meses de vida do bebê, tanto homens quanto mulheres se sentem apreensivos, ficam inseguros diante da súbita responsabilidade, dormem pouco - e mal - por isso tendem a ficar irritados. O assunto rotineiro agora é o bebê, não sobra espaço para conversas pessoais, e discutir a relação pode ser perigoso.
Mas o casal passa a ver-se diferente, são agora uma família, nem conseguem lembrar como era a vida sem esse bebê. A vida que tinham parece uma realidade distante, e se dão conta de que as coisas mudaram na cabeça, no coração e no casamento. Estão agora num lugar novo e praticamente irreconhecível que ainda está em processo de mudanças. E ambos têm dificuldade em adaptar-se a essa nova fase de mudanças profundas. Talvez em igual proporção que têm de dividir com o outro esses sentimentos de insegurança que os toma, ocupando bom espaço nos pensamentos diários.
O casal precisa de tempo para acostumar-se com as transições pelas quais estão passando, e muitas vezes, por sentirem-se solitários nos seus sentimentos, tendem a descontar suas frustrações e medos no outro. Infelizmente é bastante comum a dificuldade de resolução pela falta de boa comunicação. Se ambos se sentassem diante do outro e assumissem seus medos, grande parte do problema estaria a caminho das soluções. Abrir o coração para o outro, compartilhar generosamente esse filho e todas as dificuldades individuais deixa visível para o cônjuge que não é só com ele que acontecem essas coisas. E que juntos, podem superar mais facilmente as dificuldades, Afinados, se fortalecem ao trocar idéias e encontrarem, juntos, as soluções. No mínimo, partilham as angústias semelhantes.

"Um bebê a caminho. O que fazer?" - Como se sentem

Como as mulheres se sentem?

Radiantes e apavoradas. Experimentam um amor incontrolável e um medo exagerado diante do novo. É comum também pensar sempre que vai acontecer o pior, o que as leva a superproteger seu bebê - a mãe leoa! As mulheres ficam à mercê de suas emoções, e isso é hormonal, biológico.
Foram costumadas a ver imagens suaves da maternidade. Não associam o ser mãe com fraldas sujas, noites em claro, cabelos embaraçados, roupa folgada e manchada de vômito e uma eterna expressão exausta no rosto.
Preocupações sobre as alterações que o corpo sofreu, a culpa que sentem quando precisam voltar ao trabalho, as dúvidas sobre o que é melhor para a família e se está fazendo tudo "direito" parecem ser eternas. Certamente sabem que não responsáveis por precisar adaptar a rotina familiar quando vence sua licença maternidade, mas a culpa gerada é muito mais pelo desejo de permanecer com a criança, pois tem consciência de que seu salário contribui para a manutenção familiar, assim como ter seu lugar profissional é uma necessidade que está construindo desde cedo, uma vez que suas funções de mãe não serão desempenhadas com a mesma dedicação diária quando estes filhos crescerem e, gradualmente, alçarem voo e abrir-se um vazio no seu ninho familiar. As relações sociais também devem ser consideradas, pois além de sermos seres gregários por natureza, é no contato com os outros que nos construímos indivíduos.

Como se sentem em relação aos seus maridos?

Seus companheiros parecem mais afastados da trabalheira que dá ter um filho, e podem se decepcionar se eles não demonstrarem as mesmas preocupações, assim como se frustram quando eles não participam igualmente das tarefas de cuidar do bebê. Pela história e cultura, a maioria deles não faz nem uma coisa nem outra.
As mulheres se perguntam se eles não percebem que houve um aumento radical das tarefas, e tudo que desejam é mais ajuda e compreensão. De novo a importância de comunicar, negociar tempo e estabelecer quais tarefas caberão a cada um. Esse manejo acontece numa boa conversa, sem acusações ou cobranças. Criticar abre abismos nos diálogos, por isso a boa articulação não basta, precisando estar de mãos dadas com a boa vontade, o desejo de resolver as dificuldades,. Assim como é importante acatar o que o outro tem a dizer, muitas vezes causando surpresa saber o quanto nossos comportamentos contribuem para o comportamento do outro. É claro que isso vale para ambos.

Como os homens se sentem?

Assim como suas mulheres, eles também têm um amor enorme e um medo terrível. Se sentem pressionados e exaustos, e se perguntam se sua vida e sua esposa algum dia voltarão ao normal.
Culturalmente, cabe ao pai o papel de provedor, de responsável pelo bem-estar e estabilidade da família. Se não der conta, ainda que tenha ajuda da renda da esposa, sente-se fracassado. Isto faz com desvie sua atenção para o trabalho. Enquanto as mulheres se preocupam com a alimentação do bebê, os homens põe a comida na mesa. Essa preocupação pode comprometer sua capacidade de ver aquilo que poderia fazer para colaborar com as tarefas domésticas. Mas ser um bom pai, oferecer dentro de suas condições um bom padrão de vida para sua família é uma sensação muito boa.
Os homens sentem um amor avassalador pelos seus filhos e ficam sem palavras diante do encanto que é esse novo papel de pai, mas não é o furacão de emoções que as mulheres experimentam. Criam laços fortes com seus filhos, mas num outro ritmo e de maneira diferente. E sentem medo. Se algo lhes acontecer, quem cuidará dessa família?

Como se sentem em relação as suas esposas?

Admiram a dedicação, a devoção, a capacidade de abandono ao seu bebê. Percebe que desenvolve os cuidados com maestria, e raramente pede ajuda, é habilidosa e abnegada. Mas não entende que ela não seja capaz de conversar sobre nada que não seja o filho, ou que faça pedidos absurdos, como acordá-lo para trocar fraldas se ela própria já está acordada, amamentando. E também reclama que se não faz o que ela pediu, fica furiosa. Sente-se quase um empregado mandado o tempo todo. Na maioria das vezes se sente um assistente, relegado ao segundo plano - afinal, nunca vai fazer uma troca de fraldas igual a ela. A ele está destinado o papel de carregador da sacola, carrinho e todos os apetrechos infantis, enquanto a mãe carrega o filho e tece mil recomendações ao mesmo tempo que solicita que volte à cozinha para apanhar o que esqueceu sobre a mesa, entre outros pedidos que saem em cordão - para não esquecer de nada. Enquanto, resignado, ele atende sua mulher, o que será que passa por sua cabeça??
Uma boa solução para ambos é procurar lembrar que a fase recém-nascido é difícil mesmo, implica em muitas e significativas mudanças. enquanto se está no olho do furacão, parece que nunca vai acabar, mas só dura os primeiros meses e depois as coisas realmente melhoram.

Lembrar de algumas coisas importantes:
  • não é hora de discutir a relação - a maioria das discussões tem origem nos hormônios, na falta de sono e o choque das mudanças com a chegada do bebê.
  • se darem um tempo de trégua - antecipadamente desculpar-se pelas faltas que vai cometer e pelas bobagens que um dirá ao outro, pois sabem que tudo voltará ao normal em torno de três meses.
  • procurar manter o bom humor mesmo diante do caos.
  • pedir ajuda ao seu par, aos familiares, aos amigos chegados. Isso ajuda a não sobrecarregar o casal.

"Um bebê a caminho. O que fazer?" - Encerramento

As autoras destacam algumas questões realmente muito importantes. Não é receita para um bom entendimento dessa fase e suas conseqüentes soluções, mas algumas sugestões que podem mudar o rumo de uma história cheia de pequenos e grandes conflitos.
Preservar a intimidade de casal é um ponto chave para não decorrer desta, outras dificuldades. Após os primeiros meses, quando a rotina for se estabelecendo, o casal deve encontrar um tempo para si, deixar o bebê entregue aos cuidados de alguém de confiança e sair sozinho, por algumas poucas horas. Agora é a hora de chamar a avó ansiosa por ajudar, ou a madrinha, a tia, a melhor amiga. Esse tempo que estiverem a sós deve ser aproveitado para resgatar a intimidade desse casal que até então era muito mais pai e mãe do que marido e mulher. Por essa razão, ambos devem evitar nesse período falar do bebê, tratarem-se carinhosamente, namorar um pouquinho. Se possível, em comum acordo reservar algum dia da semana para o casal, ainda que seja irem juntos para academia, assistir um filme ou dar um passeio.
Ser generoso para com o parceiro. Dar um desconto para seu cansaço, sua irritação lembrar que você também se sente assim. Elogiar seu desempenho como mãe / pai, enaltecendo as tentativas, a dedicação, a maneira como aprendeu a cuidar desse bebezinho.
Ajudarem-se nos momentos mais difíceis, por exemplo, revezando os cuidados durante a noite: a mãe amamenta e depois ele põe o bebê para arrotar e leva para o berço. São tarefas simples que harmonizam o casal.
Ambos esperam dividir esse momento de alegria, compartilhar com o outro. O que precisa ser conversado entre eles é sobre as fantasias que criaram sobre o que o outro deve fazer. A expectativa não correspondida gera decepção e instala o conflito. Se cada um souber o que é esperado de si, poderá negociar, flexibilizar, se empenhar mais para atender às necessidades do outro.

O investimento de ter um filho é um projeto a ser vivido a dois. E saber antecipadamente das implicações só pode servir de apoio e ajuda para o casal estar atento a maneira como vai construir esse tempo de mudanças tão importantes, decisivas e definitivas em suas vidas.

01/12/2009

O "FOGO" QUE TRANSFORMA, PASSA PELO INVARIÁVEL "ATRITO"


"Milho de pipoca que não passa pelo fogo, continua a ser milho de pipoca para sempre."

Rubem Alves foi muito feliz ao construir essa analogia simples (são as melhores!). A dureza de coração e a rigidez das atitudes, machucam muito mais quem está na ação. E poucas das pessoas que estão "se quebrando" pelo contato hostil na relação que estabelecem com a vida, percebem. Conservar o rigor nas crenças e manter a rudeza própria de quem age subordinado à rijeza dos juízos de valor que não sofreram as transformações pedidas pela própria vida, evidencia que está em atrito, entretanto, não está atritando-se construtivamente.
Atritar-se, como o psicólogo e antropólogo Roberto Crema sugere tão apropriadamente em seu texto "Atritos", é polir a si mesmo através do contato com as pessoas, pois sem a existência do outro não acontece a nossa própria. Somos seres em constante relação, e estas, nos transformam, mudam nossos sentimentos, alteram nossas atitudes, modificam nossas ações. Isto é crescer, atritando-se saudavelmente, compreendendo o processo de mudança permanente a que estamos sujeitos. O aprendizado acontece nas interações, que acabam por revelar aspectos e características que fomos construindo e agregando ao longo da caminhada. Como somos humanos, cometemos enganos, equívocos e erros. E são eles que nos impulsionam a crescer, pois cobram seu preço de alguma maneira, e a mudança interior, que vem pelas mãos de nossos sentimentos, nos levam em algum momento à mudança externa de comportamentos.
A retaliação que cada um faz acerca de si mesmo, mostra que está em atrito (conflito) pessoal, marcando a existência com pensamentos destrutivos, decrescendo na caminhada da vida e infeliz, porque se cerca do negativo, da desesperança, do amargor resultante de si mesmo. Ainda pior acontece em relação ao outro, cujos julgamentos tendem a ser ásperos e duros, em que um involuntário esquecimento da condição humana - da qual também faz parte - conduzem às inevitáveis atitudes de cobrança que obedecem às avaliações e conceitos que seguem a mesma inflexibilidade, construídos a partir de significados que não se dobram mesmo diante dos próprios enganos. Ser "milho" para sempre é não permitir que o fogo da vida - todas as situações de estresse, sofrimento, decepções, frustrações e dores - lapide as emoções, reavalie conceitos, reveja a si e ao outro sob olhar complacente, tolerante. É escolher ser o fel que amarga a existência, a energia que não flui porque fica represada nos entulhos que carrega: rancor, ódio, mágoa. Desta forma fica impossível ver a vida sob lentes mais promissoras, em permanente oposição aos pensamentos transformadores, que invarialvelmente produzem resultados mais amenos, deixando a si mesmo e seus pares, pessoas mais preparadas para absorver o aspecto inebriante e encantador da vida, aquele que trás significado, sentido e sublimação.
Será que todo o fogo que já aqueceu tremendamente nossos grãos de milho ainda não foram suficientes? Os atritos que apenas quebram e machucam sem nada transformar além da forma externa, não tocaram ainda nas feridas internas?