01/09/2011

COQUETEL DE EMOÇÕES

As emoções universalmente conhecidas – e vivenciadas - são seis: medo, tristeza, raiva, alegria, desagrado e surpresa. Destas, conhecidas como básicas, destacamos quatro: raiva, medo e tristeza, que são aquelas mais difíceis de viver – e combater. E a alegria, que pode ser considerada a vírgula de uma frase, porque dá sentido diferente, pontuando a expressão. A alegria transforma o indivíduo, o ambiente. Conviver com ela é infinitamente melhor, mais saudável e agradável.

Quando percebemos a instabilidade de nossas emoções, senti-las (ou sabê-las) pode gerar sensações desagradáveis, confusas, uma vez que podem nos remeter a sentimentos de desamparo, melancolia, apatia e tristeza; provocando um interminável diálogo interno buscando respostas que nem sempre temos, o que acaba por aumentar a angústia, suscitando um emaranhado de emoções que sequer conhecemos a origem definida.

Se as emoções pudessem ser relacionadas a um coquetel de sentimentos, a dose preparada por pensamentos recorrentes, momentos de difícil elaboração de sentimentos ou de conflitos internos, pode não conter a mistura ideal e funcionar como um veneno capaz de adoecer ainda mais o estado emocional da pessoa que, intoxicada por esse drinque, se deixa encharcar por emoções tóxicas.

Nas vivências pelas quais passamos ao longo da vida, desenvolvemos habilidades e descobrimos ferramentas de fundamental importância no combate das emoções danosas, subordinadas ao mundo de sensações e sentimentos a que estamos sujeitos. Transitamos o tempo todo por estados interiores de instabilidade emocional, e, muitas das vezes, é através da polaridade dessas emoções que resgatamos a resiliência que construímos para defender a estrutura psíquica, o sistema emocional que nos governa. Entretanto, a estabilidade emocional requer instrumentar-se para enfrentar as dificuldades, demanda autoconhecimento, estratégias para combater os efeitos que esse coquetel pode provocar, meios eficazes que, aplicados no dia-a-dia, ajudam a identificar os padrões de comportamentos e suas mudanças desejáveis, assim como favorecem a manutenção do bem-estar, sem que precisemos pensar em ficar refratários aos sentimentos que as geram.

Assim como não existem fórmulas mágicas, também não se tem meios infalíveis que processem essas emoções de maneira a exterminá-las, inclusive porque muitas delas estão presentes para auxiliar-nos no desenvolvimento das estratégias de enfrentamento, fortalecendo-nos para coibir outros instantes semelhantes, ampliando o manejo e estrutura emocional de forma a nos tornar hábeis e perspicazes quanto às próprias percepções e vivências das emoções.

O coquetel pode causar leve tonteira, mas encontramos a porta de saída. O gosto pode ser forte, porém, temos o gosto doce das infinitas possibilidades que habita em nós, além da capacidade ímpar de revolucionar tudo e reconstruir-nos.

06/03/2011

O SOFRIMENTO É ÚTIL?

Ouvimos (e fazemos!) muitas queixas sobre os sofrimentos que desalinham o cotidiano das pessoas, desafiando o indivíduo a encontrar soluções ou alternativas, sejam imediatas, precárias, duradouras ou provisórias. Se mudarmos o foco, saindo da queixa para a conscientização do aprendizado, podemos observar que os impactos que "sofremos" vivenciando fortes emoções e sentimentos contraditórios, contribuem para o polimento dessas emoções, propiciando as mudanças que, inevitavelmente, promovemos em nós e, conseqüentemente, no meio que nos rodeia.


Entretanto, tenho tido a sensação de ver tremular uma nova bandeira em nossos dias, acenando com a presença - ainda que sutil - de comportamentos mais "leves", pensamentos desejosos de harmonia, serenidade, complacência; a presença de mais ternura e docilidade nas pessoas. Embora a resistência ainda acorrente alguns, é grande o movimento na direção da conscientização de que, é sim necessário imprimir a positividade em nossos pensamentos, transformando e suavizando as relações, num claro sinal de tentativas de boa convivência - consigo e com todos. Desta forma, afastamo-nos de crises e conflitos, semeando novos comportamentos e colhendo resultados mais atraentes, que tenderão a se manter.


Os "atritos saudáveis" são necessários para o crescimento, disso a gente sabe. A questão é: estamos nos atritando e aprendendo? Sentimo-nos melhores, mais habilidosos diante das dificuldades? Reunimos mais recursos internos para fortalecer nossas ações? Estamos menos tensos e mais felizes? Sorrimos mais e reclamamos menos? Criticamos ou elogiamos mais? Olhando para o que fomos e o que somos hoje, apreciamos a diferença? Conhecemos-nos melhor e conhecemos mais aqueles com quem nos relacionamos?


Um bom termômetro é perceber quais destas perguntas ainda não sabemos responder, quais respostas demos, e o que falta para chegar onde definimos como meta – lembrando que as mudanças não são estanques e nem definitivas, é sempre possível restabelecer novos objetivos, criar novas estratégias e encontrar novos caminhos.


09/01/2010

DISTANCIANDO-SE PARA ENTENDER

Quem nunca experimentou a sensação de impotência diante de algumas das dificuldades que a vida apresenta? Uma doença, ou um doente na família, cujo quadro seja sério e irreversível, instala nesse sistema familiar - e suas adjacentes relações – um estado alterado de ânimo, conturbação emocional (e física), como a flutuação do humor, do sono, do apetite. Apatia, tristeza, frustração, prostração. O quadro é desanimador, e, se a gente permite, toma conta e dimensões que podem escapar do controle de qualquer um.

Estas mesmas características descritas podem ser observadas em momentos de conflito interno, diante de situações inesperadas, notícias ruins, perdas, rompimentos, processo de autoconhecimento, mudanças bruscas, momentos que pedem decisões de grande monta. São fatores que muitas vezes independem da vontade da gente, mas que carregam conseqüências que farão diferença na bagagem da vida e conseqüente construção dos dias futuros.

Se estivermos muito mergulhados no problema, ansiosos por soluções rápidas, fisicamente abatidos e emocionalmente em desalinho, é provável que os problemas se intensifiquem ou se dimensionem muito maiores do que são. Distanciar-se, “olhar de fora” com mais calma e clareza, tende a favorecer a percepção. Primeiro, do que realmente esteja acontecendo; segundo, propiciando suficiente consciência e discernimento na busca das possíveis soluções.

Distanciar-se é dar um tempo para a poeira baixar, dar um fôlego para as emoções, olhar de frente para o que precisa ser visto, compreendido, aceito, mudado. Esse repensar segundo outro ângulo, certamente abrirá o campo de visão, permitindo novos caminhos – existentes ou criados – e, fôlego novo, jornada nova.

Não é ruim sair de cena por um período necessário - que não deve se prolongar ao ponto de perder o foco e a solução; assim como não ser atropelado por quem não entende o silêncio, o retiro, a necessidade de isolamento. Em algumas situações, é preferível (recomendável, mesmo) que se comunique a indisponibilidade momentânea, solicitando apoio, compreensão, solicitude junto àqueles que nos acompanham na caminhada. Mesmo que a causa não angarie simpatia, ganha esclarecimento. Não podemos esquecer que nossas escolhas envolvem a decisão pessoal e deve prevalecer nossa vontade e autonomia, mas que no contexto viver, estão incluídas outras pessoas.

Após esse recolhimento para ver mais longe, talvez se perceba que não há mesmo solução - não naquele momento, da maneira como gostaríamos ou para aquela específica situação - mas seja entendido que impotência não é sinônimo de incapacidade, e que faz parte do processo crescer enfrentar riscos, dificuldades, medos, fracassos. Saímos mais fortes, transformando algo aparentemente negativo em um ganho real, ainda que nos sintamos derrotados diante do desejo.


11/12/2009

PALESTRA

A Brasil Telecom implantou um ciclo de palestras direcionadas ao grupo de gestantes da empresa. Buscaram profissionais que pudessem oferecer temas relacionados, procurando levar esclarecimento e reflexões. Foram assuntos que propiciaram a oportunidade de trocar experiências e parar para pensar sobre este momento do ciclo vital que estão vivendo. Não existe segredo nenhum numa gravidez, e desde que o mundo é mundo as famílias são formadas e bebês nascem. O que existe é desinformação, uma realidade diferente na composição familiar atual, além da demanda de diferentes focos de atenção que envolvem o período gestacional. Dentro dessa perspectiva, ao ser convidada para encerrar o ano de 2009 fechando assim o ciclo de palestras do Programa Gestação Saudável, propus um tema informativo, que provocasse uma reflexão conjunta sobre algumas questões tão corriqueiras, que na maioria das vezes, por serem tão óbvias, parecem fazer parte da vida. E assim incorporadas ao sistema, deixam de ser vistas sob outro ângulo. A proposta preventiva é adiantar-se ao "problema", desenvolvendo estratégias de enfrentamento, antecipando boas soluções que podem contribuir para a não entrada de conflitos relacionais que afetam ainda mais o estado emocional que envolve os jovens pais no desafio das adaptações que a chegada do bebê impõe a esta família. Por acreditar nos trabalhos de prevenção, optei por usar este espaço que me ofereceram para levar o tema conseqüente da gravidez: o nascimento do bebê e os primeiros meses de adaptação dessa nova dinâmica familiar. Como a maioria das gestantes tem seus companheiros e está na primeira gravidez, o foco foi o nascimento do primeiro filho, assim como direcionou-se para um casal. As questões particularizadas puderam ser abordadas através das perguntas que surgiram, esclarecendo minimamente, infelizmente sem possibilidade de maior aprofundamento.
Antes mesmo da chegada do bebê o casal já se percebe como pais, ampliando assim seus papéis nesse sistema familiar. Diante dessa realidade, partimos do fato de que antes havia um homem e uma mulher, que se tornou um casal, e agora são um pai, uma mãe e um filho. Sabendo que o tema é mobilizador e poderia levantar o desejo de aprofundar o entendimento das futuras mamães, optei usar como guia do assunto que desenvolveria no nosso encontro um livro de fácil acesso e leitura, escrito por três mulheres que discutiram na época de suas vivências particulares situações semelhantes a todas as gestantes.

Fiquei imensamente grata por poder falar sobre um tema que gosto muito, família, e inserir-me nesse contexto como mulher, mãe, sogra e no tópico avó, realidade atual do meu sistema familiar. E honrada por fechar o ciclo do Programa. Meu respeito pela iniciativa da empresa e agradecimento à equipe coordenadora do Programa, que conta com uma funcionária que descobriu-se grávida de 8 semanas, Telma. Minha gratidão pela acolhida de vocês e das gestantes das duas Unidades.
Posteriormente disponibilizarei algumas fotos do evento, aguardando o envio pelas responsáveis.

O tema proposto por mim foi "Um bebê a caminho. O que fazer?", baseado no livro Casamento à prova de bebês, das autoras Stacie Cockrell, Cathy O'Neill e Julia Stone - Ed. Sextante, 2009.
Abaixo, dividido em tópicos para suavizar a leitura e facilitar a localização através da especificação do assunto abordado.

"Um bebê a caminho. O que fazer?! - Abertura

Ter filhos muda tudo!

Depois que o bebê nasce, alguns problemas aparecem, e nem todos podem ser evitados, como a reviravolta das emoções que são novas como a fase que a família vivencia, muda o estilo de vida. Mas não há culpados. Há diferenças. Homens e mulheres são diferentes, e não reagem da mesma maneiras às funções de pai e mãe. Não sabem como agir e nem como se sentirão depois que nascer o bebê. A maioria fica perdido diante da avalanche de mudanças que vem junto com a chegada do bebê. Fomos acostumados a ver a gestação como o período da plenitude da vida, e de fato o é, mas não nos preparam para a maratona que virá.

O período da gestação poucas vezes prepara o casal para a chegada em casa com um recém-nascido. É um tempo de preparação mais focado em ações práticas, além da "curtição" dos futuros papais e seus familiares e amigos. Reunindo as melhores intenções de serem os melhores pais que conseguirem, constroem expectativas envoltas na ansiedade da espera para cumprirem essa responsabilidade que consideram grande, apesar de linda.

Quando os primeiros dias - que transcorrem envoltos no ir e vir de visitas, presentes e natural extasiamento de todas as pessoas próximas que participam desse processo - passam, e os jovens pais se vêm diante da realidade do dia-a-dia tumultuado pela necessária adaptação dessa fase nova. De tão envolvidos, raramente percebem algumas situações-problemas se instalando; mas sentem com clareza seus sentimentos apontando em pequenas direções:

Por que discutimos tanto?
Por que não conversamos mais como antes?
Por que ficamos irritadas quando eles demoram tanto para achar a chupeta?
Por que tenho crises de choro que não controlo?
Por que ele me olha atravessado mas não diz nada?
Será que somos o único casal que não faz sexo?
Seremos os únicos que não conseguem dar conta de tudo?
O que está errado conosco? O que está acontecendo, afinal?

Levantar algumas reflexões é abrir caminho para, se ou quando acontecerem dificuldades, o casal possa identificar e resolvê-las. Esta é a proposta, e para viabilizar a antecipação aos comuns fatos com que se depara o casal e suas conseqüentes armadilhas, segue a escolha de alguns tópicos básicos para auxiliar no início dessa compreensão.