28/04/2009

PSICOTERAPIA

Muita confusão ainda se faz acerca do que seja o processo psicoterápico. Comecemos entendendo o que é ‘processo’, lembrando que as mudanças ocorrem a partir da conscientização das pessoas sobre a necessidade de mudar para obter diferentes conseqüências – ou resultados – e isso ocorre mediante a aquisição de novos comportamentos, gerando modificações e ações que vão evoluindo gradualmente, salientando que é um prodecimento no qual o desenvolvimento de cada paciente ocorre no seu tempo, obedecendo as características individuais e comprometimento pessoal.

O que é, afinal, a psicoterapia?

Todos temos sentimentos, tensões, inseguranças, dificuldades, frustrações e perdas que sofremos ao longo da vida. Em menor ou maior grau, os conflitos internos prejudicam o andamento das nossas vidas, podendo gerar sintomas que nada mais são do que a expressão simbólica de seus conflitos. É através da terapia que resolvemos nossas dificuldades individuais e relacionais, pois é um recurso precioso onde se lida com as dificuldades da existência humana em todas as formas que o sofrimento pode assumir, sejam de caráter pessoal, de relacionamentos, profissional, conflitos conjugais e familiares, dificuldades nas diversas transições que ocorrem na vida.

O engano está em se pensar que o terapeuta tem o papel de conselheiro ou que está ali para oferecer soluções mágicas, prontas e rápidas. Como se houvesse um manual onde uma relação das soluções possíveis pudessem ser distribuídas de acordo com o ‘problema’. O terapeuta tem o papel de facilitador na compreensão pessoal das questões trazidas pelos clientes, sendo um instrumento na relação terapêutica em benefício das pessoas, que serão as únicas responsáveis por encontrar os caminhos à medida que vão se conscientizando, esclarecendo suas questões, enfrentando seus problemas, limitações e dificuldades, de forma a conhecer-se melhor na sua integralidade, aprendendo a equilibrar-se ‘apesar’ das dificuldades existentes.

O psicoterapeuta se utiliza das teorias psicológicas em suas diferentes abordagens. São as chamadas correntes teóricas, ou métodos em que cada terapeuta se apóia para atuar. Embora haja diversidade nas técnicas utilizadas, têm em comum o desejo de compreender o indivíduo, favorecendo sua própria compreensão e ajudá-lo a mudar seus padrões emocionais e comportamentais. As terapias podem ser individual, de casal, familiar ou em grupo.

O psicoterapeuta propõe intervenções que têm como objetivo a manutenção de uma vida psíquica saudável, bem como a prática preventiva de doenças psíquicas, mas sobretudo, propicia um meio através do qual cada um pode ampliar suas potenciais possibilidades de desenvolvimento intra e interpessoal.

A psicoterapia é, portanto, um amplo processo de crescimento pessoal, que permite transformações profundas com resultados bastante satisfatórios em termos de autoconhecimento, e este propicia o ganho de segurança no manejo pessoal de suas questões, identificando-as e elaborando-as de forma a desenvolver a própria resiliência - habilidade em superar adversidades, criatividade na resolução de problemas e desenvolvimento de autonomia e sociabilidade. Com isso pode processar as mudanças pertinentes e necessárias para seu maior bem-estar, confiando em suas atitudes que reconhece e aprende a exercitar no seu convívio social, nas suas vinculações afetivas, podendo estabelecer suas regras com maior flexibilidade, compreender seu funcionamento individual, assim como o das pessoas que o cercam.

A psicoterapia é caminho para ser andado junto com os clientes, numa interação que envolve sentimentos, pensamentos e ações.



09/04/2009

A ESTRUTURA PSÍQUICA DO CIÚME

Psic. Thays Araujo

Psicoterapeuta Cognitivo-Comportamental

É muito comum ver na literatura e nas artes em geral as pessoas falarem sobre o amor e o ciúme. O interesse sobre o tema está presente em obras de muitos famosos como William Shakespare, Miguel de Cervantes, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, etc.

Em grego, ciúme significa zelar, tomar conta, cuidar para que não se perca algo ou alguém por quem se tem apreço. No dicionário Aurélio Eletrônico consta que ciúme é “um sentimento doloroso que as exigências de um amor inquieto, o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade, emulação, competição, rivalidade, despeito invejoso, inveja, receio de perder alguma coisa, cuidado, zelo”.

Entre as concepções mais tradicionais encontra-se a de White, segundo o qual é definido como “um complexo de pensamentos, emoções e ações, como conseqüência da perda de um relacionamento romântico, ou motivado pela ameaça à auto-estima e/ou a existência ou à qualidade desta relação”.

Para Sharpsteen o ciúme romântico está cognitivamente organizado como uma emoção combinada, que mistura emoções básicas como medo, raiva e tristeza. Assim, o termo ciúme se utiliza para explicar um conjunto de emoções associadas à perda ou à possibilidade de perda de um relacionamento afetivo com um parceiro para um rival. Mathes frisa que o termo se aplica apenas a sentimentos negativos, dotados de uma conotação dolorosa e desagradável, identificados como uma reação emocional aversiva ou um estado afetivo aversivo. Já para Ferreira-Santos o ciúme pode ter um aspecto ser positivo, quando fornece ao sujeito um alerta de que algo não está indo bem consigo mesmo e com sua relação conjugal.

Hanse afirma que são necessários dois fatores para provocar ciúme: um relacionamento valorizado e a percepção de que o parceiro está envolvido em uma atividade ou com outra pessoa. Ramos salienta que “o ciúme refere-se a uma ameaça ao relacionamento, seja ela em decorrência de uma suspeita, e aí sua natureza é incerta, ou pode ocorrer quando a ameaça é desencadeada pelo fato consumado”. Nos casos de suspeita os sentimentos são de apreensão, preocupação, insegurança, desconfiança, medo e ansiedade. Quando há confirmação da infidelidade destaca-se a tristeza, a raiva, depressão, ansiedade e inveja. Parrot e Smith enfatizam que na inveja o outro tem o que falta ao outro sujeito, e no ciúme o temor é pela perda de um relacionamento que o sujeito já possui.

Na Psicologia Cognitiva o ciúme é considerado como uma forma de organização mental, uma estrutura psíquica como um esquema relacional, ou seja, uma estrutura mental desenvolvida a partir da articulação das experiências do indivíduo, ao longo de sua história de relacionamentos interpessoais, no que se refere a ameaças à existência ou manutenção de um vínculo afetivo valorizado.

Markus & Zajonc afirmam que “os esquemas são normalmente concebidos como representações organizadas de comportamentos e experiências passadas que funcionam como teorias sobre a realidade, para guiar uma pessoa na construção de novas experiências”. Portanto, são generalizações cognitivas que servem para organizar ou explicar o comportamento em um domínio particular, ou ainda, estruturas gerais e complexas através das quais as informações são mentalmente representadas.

Para Ramos o ciúme é uma construção psíquica. Sob influência da teoria de Vygostsky, o autor afirma que o ciúme existe na mente das pessoas como uma coisa, um elemento psíquico, organizado em sistemas funcionais, dinâmicos e historicamente mutáveis.

Se a mente possui conteúdos, quais seriam os elementos constitutivos do ciúme? Parte-se do pressuposto que a dimensão comportamental do ciúme é decorrente de elementos afetivos e cognitivos e que os esquemas relacionais se dão através da percepção que os indivíduos tem das relações triangulares. Portanto, a construção do ciúme ocorre a partir da percepção que o sujeito tem sobre determinado evento, da maneira como ele faz a leitura da situação que experencia e que para ele possui forte valor afetivo. Essa percepção está intimamente ligada à noção de ameaça da estabilidade do relacionamento conjugal, entretanto o ciúme não é um produto imediato de certas combinações de estímulos ambientais pré-definidos, não havendo a princípio condições que por si só evoquem o ciúme. Ou seja, não existem situações determinadas geradoras de ciúme que sejam únicas para todas as pessoas. Isso se confirma, quando uma situação é percebida como ameaçadora para uma pessoa e não é percebida desta forma por uma outra pessoa. Cada um percebe a situação de acordo com conteúdos próprios e particulares e assim fazem o processamento das informações, construindo um esquema relacional individual. A ocorrência do ciúme depende menos dos arranjos entre os elementos ambientais, e mais da maneira como a pessoa percebe as situações que vive.

O bom disso tudo é que se pode aprender a ser menos ciumento e ter uma relação mais satisfatória e saudável com quem se ama. Isso é possível após entender quais são os fatores que desencadeiam o ciúme, desenvolvendo a auto-estima e a boa comunicação na relação conjugal.



04/04/2009

ELEGENDO PRIORIDADES REDUZO O ESTRESSE

Quando a gente potencializa a energia do físico para tarefas agradáveis, consegue cumprir as demandas e pendências. Se o corpo se ressente pelo acúmulo de conteúdos mentais, a energia física vital fica estagnada. Sintomas como cansaço, sonolência ou insônia, irritação, insatisfação, perda de interesse por atividades que costumam ser prazerosas, desânimo, entre outros, são sinais claros que há necessidade de entender as causas e buscar soluções.

As preocupações diárias, as expectativas e o tumulto que nos rodeia neste mundo competitivo e exigente contribuem para que se instale a desorganização da rotina e seus conseqüentes resultados de estresse.

Há algumas estratégias que podemos desenvolver para organizar as tarefas que precisamos cumprir. O início de tudo é eleger as prioridades. Mas escrever na agenda pode ser um meio pouco eficaz, porque não visualizamos o todo, e desta forma não vemos a possibilidade que permite reajustar os itens listados.

A sugestão é metafórica, porém, contém em si grandes chances de eficácia, e isto reduz o estresse gerado pela desorganização.

O ideal é colocar num mesmo papel a figura de três potes, sendo o primeiro o da esquerda, na cor vermelha, significando as prioridades de caráter urgente (diárias ou semanais); o pote do meio da cor amarela, onde devem constar as tarefas que podem ser adiadas para os próximos três dias (ou semana); e à direita o pote de cor verde, onde distribui as tarefas menos urgentes, que podem ser adiadas por duas semanas (ou para o próximo mês). Se as cores lembraram um semáforo, a associação foi correta: no vermelho é preciso parar e executar; no amarelo dar atenção ao que é preciso fazer, mas pode esperar; no verde é possível seguir com tranqüilidade, pois dá para flexibilizar.

A recomendação de listar as atividades necessárias numa única folha tem como objetivo possibilitar visualizar se, ao escolher os potes, houve acúmulo no que foi classificado como urgente; e assim sendo, visualizando a impossibilidade de cumprir com todos os itens, qual pode ser transferido para o pote subseqüente. Discriminar o que realmente é urgente daquilo que pode esperar é o benefício maior que leva à priorizar o tempo e distribuí-lo eficazmente.

Se pareceu fácil demais como sugestão, experimentar a técnica pode provar que a organização não só é possível, como propiciará organizar-se de tal forma que ocorre um relaxamento que diminui a pressão e, conseqüentemente, alívio do estresse.

Como recurso para a ansiedade de alguns, a técnica de respiração ajuda a regular o batimento cardíaco e proporcionar bem-estar. Parar com as atividades por alguns instantes – principalmente naqueles em que tudo parece dar errado ou quando gera a sensação de ter “travado” – e inspirar / expirar sem preocupar-se em alterar o ritmo respiratório, apenas prestar atenção no ato de respirar, que, de tão automático que é, não nos damos conta. Mais do que isso, não percebemos o quanto a respiração contribui para diminuir a ansiedade e proporcionar um desacelerar saudável na agitação do dia-a-dia. Revigora. Se for possível fazer o exercício mantendo os olhos fechados, tanto melhor, porém, até mesmo no trânsito podemos aplicar a técnica. Aliás, é uma ocasião ótima, tendo-se em vista que enfrentar o tráfego das nossas cidades é um desafio diário que gera estresse.

Se for possível parar por alguns instantes e relaxar com uma música, por exemplo, é outro recurso eficaz para reduzir o cansaço mental que tendemos a sentir no término de um dia cheio de obrigações.

O uso das sugestões depende do quanto cada um decida beneficiar-se. Essa é uma escolha pessoal, mas os resultados atingem, além do próprio sujeito, aqueles que o cercam: menor estresse é melhor relação consigo mesmo e com os grupos familiares e sociais com os quais nos relacionamos.