09/01/2010

DISTANCIANDO-SE PARA ENTENDER

Quem nunca experimentou a sensação de impotência diante de algumas das dificuldades que a vida apresenta? Uma doença, ou um doente na família, cujo quadro seja sério e irreversível, instala nesse sistema familiar - e suas adjacentes relações – um estado alterado de ânimo, conturbação emocional (e física), como a flutuação do humor, do sono, do apetite. Apatia, tristeza, frustração, prostração. O quadro é desanimador, e, se a gente permite, toma conta e dimensões que podem escapar do controle de qualquer um.

Estas mesmas características descritas podem ser observadas em momentos de conflito interno, diante de situações inesperadas, notícias ruins, perdas, rompimentos, processo de autoconhecimento, mudanças bruscas, momentos que pedem decisões de grande monta. São fatores que muitas vezes independem da vontade da gente, mas que carregam conseqüências que farão diferença na bagagem da vida e conseqüente construção dos dias futuros.

Se estivermos muito mergulhados no problema, ansiosos por soluções rápidas, fisicamente abatidos e emocionalmente em desalinho, é provável que os problemas se intensifiquem ou se dimensionem muito maiores do que são. Distanciar-se, “olhar de fora” com mais calma e clareza, tende a favorecer a percepção. Primeiro, do que realmente esteja acontecendo; segundo, propiciando suficiente consciência e discernimento na busca das possíveis soluções.

Distanciar-se é dar um tempo para a poeira baixar, dar um fôlego para as emoções, olhar de frente para o que precisa ser visto, compreendido, aceito, mudado. Esse repensar segundo outro ângulo, certamente abrirá o campo de visão, permitindo novos caminhos – existentes ou criados – e, fôlego novo, jornada nova.

Não é ruim sair de cena por um período necessário - que não deve se prolongar ao ponto de perder o foco e a solução; assim como não ser atropelado por quem não entende o silêncio, o retiro, a necessidade de isolamento. Em algumas situações, é preferível (recomendável, mesmo) que se comunique a indisponibilidade momentânea, solicitando apoio, compreensão, solicitude junto àqueles que nos acompanham na caminhada. Mesmo que a causa não angarie simpatia, ganha esclarecimento. Não podemos esquecer que nossas escolhas envolvem a decisão pessoal e deve prevalecer nossa vontade e autonomia, mas que no contexto viver, estão incluídas outras pessoas.

Após esse recolhimento para ver mais longe, talvez se perceba que não há mesmo solução - não naquele momento, da maneira como gostaríamos ou para aquela específica situação - mas seja entendido que impotência não é sinônimo de incapacidade, e que faz parte do processo crescer enfrentar riscos, dificuldades, medos, fracassos. Saímos mais fortes, transformando algo aparentemente negativo em um ganho real, ainda que nos sintamos derrotados diante do desejo.