09/04/2009

A ESTRUTURA PSÍQUICA DO CIÚME

Psic. Thays Araujo

Psicoterapeuta Cognitivo-Comportamental

É muito comum ver na literatura e nas artes em geral as pessoas falarem sobre o amor e o ciúme. O interesse sobre o tema está presente em obras de muitos famosos como William Shakespare, Miguel de Cervantes, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, etc.

Em grego, ciúme significa zelar, tomar conta, cuidar para que não se perca algo ou alguém por quem se tem apreço. No dicionário Aurélio Eletrônico consta que ciúme é “um sentimento doloroso que as exigências de um amor inquieto, o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade, emulação, competição, rivalidade, despeito invejoso, inveja, receio de perder alguma coisa, cuidado, zelo”.

Entre as concepções mais tradicionais encontra-se a de White, segundo o qual é definido como “um complexo de pensamentos, emoções e ações, como conseqüência da perda de um relacionamento romântico, ou motivado pela ameaça à auto-estima e/ou a existência ou à qualidade desta relação”.

Para Sharpsteen o ciúme romântico está cognitivamente organizado como uma emoção combinada, que mistura emoções básicas como medo, raiva e tristeza. Assim, o termo ciúme se utiliza para explicar um conjunto de emoções associadas à perda ou à possibilidade de perda de um relacionamento afetivo com um parceiro para um rival. Mathes frisa que o termo se aplica apenas a sentimentos negativos, dotados de uma conotação dolorosa e desagradável, identificados como uma reação emocional aversiva ou um estado afetivo aversivo. Já para Ferreira-Santos o ciúme pode ter um aspecto ser positivo, quando fornece ao sujeito um alerta de que algo não está indo bem consigo mesmo e com sua relação conjugal.

Hanse afirma que são necessários dois fatores para provocar ciúme: um relacionamento valorizado e a percepção de que o parceiro está envolvido em uma atividade ou com outra pessoa. Ramos salienta que “o ciúme refere-se a uma ameaça ao relacionamento, seja ela em decorrência de uma suspeita, e aí sua natureza é incerta, ou pode ocorrer quando a ameaça é desencadeada pelo fato consumado”. Nos casos de suspeita os sentimentos são de apreensão, preocupação, insegurança, desconfiança, medo e ansiedade. Quando há confirmação da infidelidade destaca-se a tristeza, a raiva, depressão, ansiedade e inveja. Parrot e Smith enfatizam que na inveja o outro tem o que falta ao outro sujeito, e no ciúme o temor é pela perda de um relacionamento que o sujeito já possui.

Na Psicologia Cognitiva o ciúme é considerado como uma forma de organização mental, uma estrutura psíquica como um esquema relacional, ou seja, uma estrutura mental desenvolvida a partir da articulação das experiências do indivíduo, ao longo de sua história de relacionamentos interpessoais, no que se refere a ameaças à existência ou manutenção de um vínculo afetivo valorizado.

Markus & Zajonc afirmam que “os esquemas são normalmente concebidos como representações organizadas de comportamentos e experiências passadas que funcionam como teorias sobre a realidade, para guiar uma pessoa na construção de novas experiências”. Portanto, são generalizações cognitivas que servem para organizar ou explicar o comportamento em um domínio particular, ou ainda, estruturas gerais e complexas através das quais as informações são mentalmente representadas.

Para Ramos o ciúme é uma construção psíquica. Sob influência da teoria de Vygostsky, o autor afirma que o ciúme existe na mente das pessoas como uma coisa, um elemento psíquico, organizado em sistemas funcionais, dinâmicos e historicamente mutáveis.

Se a mente possui conteúdos, quais seriam os elementos constitutivos do ciúme? Parte-se do pressuposto que a dimensão comportamental do ciúme é decorrente de elementos afetivos e cognitivos e que os esquemas relacionais se dão através da percepção que os indivíduos tem das relações triangulares. Portanto, a construção do ciúme ocorre a partir da percepção que o sujeito tem sobre determinado evento, da maneira como ele faz a leitura da situação que experencia e que para ele possui forte valor afetivo. Essa percepção está intimamente ligada à noção de ameaça da estabilidade do relacionamento conjugal, entretanto o ciúme não é um produto imediato de certas combinações de estímulos ambientais pré-definidos, não havendo a princípio condições que por si só evoquem o ciúme. Ou seja, não existem situações determinadas geradoras de ciúme que sejam únicas para todas as pessoas. Isso se confirma, quando uma situação é percebida como ameaçadora para uma pessoa e não é percebida desta forma por uma outra pessoa. Cada um percebe a situação de acordo com conteúdos próprios e particulares e assim fazem o processamento das informações, construindo um esquema relacional individual. A ocorrência do ciúme depende menos dos arranjos entre os elementos ambientais, e mais da maneira como a pessoa percebe as situações que vive.

O bom disso tudo é que se pode aprender a ser menos ciumento e ter uma relação mais satisfatória e saudável com quem se ama. Isso é possível após entender quais são os fatores que desencadeiam o ciúme, desenvolvendo a auto-estima e a boa comunicação na relação conjugal.



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