01/12/2009

O "FOGO" QUE TRANSFORMA, PASSA PELO INVARIÁVEL "ATRITO"


"Milho de pipoca que não passa pelo fogo, continua a ser milho de pipoca para sempre."

Rubem Alves foi muito feliz ao construir essa analogia simples (são as melhores!). A dureza de coração e a rigidez das atitudes, machucam muito mais quem está na ação. E poucas das pessoas que estão "se quebrando" pelo contato hostil na relação que estabelecem com a vida, percebem. Conservar o rigor nas crenças e manter a rudeza própria de quem age subordinado à rijeza dos juízos de valor que não sofreram as transformações pedidas pela própria vida, evidencia que está em atrito, entretanto, não está atritando-se construtivamente.
Atritar-se, como o psicólogo e antropólogo Roberto Crema sugere tão apropriadamente em seu texto "Atritos", é polir a si mesmo através do contato com as pessoas, pois sem a existência do outro não acontece a nossa própria. Somos seres em constante relação, e estas, nos transformam, mudam nossos sentimentos, alteram nossas atitudes, modificam nossas ações. Isto é crescer, atritando-se saudavelmente, compreendendo o processo de mudança permanente a que estamos sujeitos. O aprendizado acontece nas interações, que acabam por revelar aspectos e características que fomos construindo e agregando ao longo da caminhada. Como somos humanos, cometemos enganos, equívocos e erros. E são eles que nos impulsionam a crescer, pois cobram seu preço de alguma maneira, e a mudança interior, que vem pelas mãos de nossos sentimentos, nos levam em algum momento à mudança externa de comportamentos.
A retaliação que cada um faz acerca de si mesmo, mostra que está em atrito (conflito) pessoal, marcando a existência com pensamentos destrutivos, decrescendo na caminhada da vida e infeliz, porque se cerca do negativo, da desesperança, do amargor resultante de si mesmo. Ainda pior acontece em relação ao outro, cujos julgamentos tendem a ser ásperos e duros, em que um involuntário esquecimento da condição humana - da qual também faz parte - conduzem às inevitáveis atitudes de cobrança que obedecem às avaliações e conceitos que seguem a mesma inflexibilidade, construídos a partir de significados que não se dobram mesmo diante dos próprios enganos. Ser "milho" para sempre é não permitir que o fogo da vida - todas as situações de estresse, sofrimento, decepções, frustrações e dores - lapide as emoções, reavalie conceitos, reveja a si e ao outro sob olhar complacente, tolerante. É escolher ser o fel que amarga a existência, a energia que não flui porque fica represada nos entulhos que carrega: rancor, ódio, mágoa. Desta forma fica impossível ver a vida sob lentes mais promissoras, em permanente oposição aos pensamentos transformadores, que invarialvelmente produzem resultados mais amenos, deixando a si mesmo e seus pares, pessoas mais preparadas para absorver o aspecto inebriante e encantador da vida, aquele que trás significado, sentido e sublimação.
Será que todo o fogo que já aqueceu tremendamente nossos grãos de milho ainda não foram suficientes? Os atritos que apenas quebram e machucam sem nada transformar além da forma externa, não tocaram ainda nas feridas internas?

Um comentário:

  1. Oi!

    Gostei muito do seu texto. Parabéns! Coloquei no meu blog! Se tiver problema, me fala que retiro ok?!
    http://laisaboaventura.blogspot.com/

    Abraço
    Laísa

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