16/07/2009

ESCONDEMOS NUM SORRISO, A DOR?

Tenho presenciado o sofrimento mudo nas pessoas, tão bem camuflado, que a surpresa diante de um choro que se rompe porque acabaram todas as forças para esconder as dores, é imensa. E quando me refiro à dor, falo daquele sentimento intenso, que não permite dúvida do quanto essa pessoa está em sofrimento. O que menos importa, são os motivos. Tudo ganha proporção individual, pois se para um o “problema” é supérfluo, para o outro representa a imobilização diante das dificuldades que não consegue superar, do sentir doído que a consome e infelicita.

Ao entrar em contato com a dor que aflige as pessoas, percebo que, se quem as olha, soubesse o que carregam no coração, assombrados veriam que mostram para todos o picadeiro de um circo no lugar onde o que existe é um vale de sombras.

O sentimento de angústia que está disfarçado no “sorriso amarelo” muitas vezes traduz um sentimento semelhante à ausência do sol em suas vidas, embora todos os dias pendurem as roupas no varal para quem passa, vê-las secando ao sol. A metáfora fala muito dessa entrega ao sentimento interno de dor, repassado com artifícios enganosos um estado de espírito e de ânimo infinitamente distante da realidade íntima. Pisar nesse palco e atuar esse script nos valendo das defesas que encontramos, por si só já demanda um gasto extra de energia no desempenho dessa representação nem sempre brilhante. Há quem perceba a fraude, mesmo que não alcance sua magnitude.

Mas isso se deve a quê? Faltam recursos para essas pessoas ultrapassarem os obstáculos que encontram? São “fracas”? Por que usam essa máscara?

Não existe uma resposta, mas nos permite levantar hipóteses consistentes, que podem levar a entendimentos satisfatórios. Primeiro, talvez fosse bom lembrarmos que não existe uma verdade única, talvez nem haja verdade e sim possibilidades de interpretação, busca de entendimento. Compreender e acolher a única maneira que essa pessoa encontrou de lidar com suas questões, sem tentar mensurar, analisar, julgar, diagnosticar, criticar, classificar ou rotular nada, é a melhor atitude para “ajudá-la”. Basta o seu sofrimento, não há mais lugar para preocupar-se com as interpretações vazias que podemos oferecer. Nossa maneira de ver uma mesma questão pode ser totalmente diferente, e não temos o direito de a impingir ao outro. Talvez nem houvesse, no momento, outra possibilidade, e o que nos sugere fraqueza pode ser exatamente a coragem da escolha valente de não se entregar, a opção de preservar pessoas amadas, a si próprio. Aliás, coragem esta que irá fortalecer a pessoa a partir da necessária ampliação da percepção no processo de conscientização que pode promover as mudanças gerando um resultado que pressupõe crescimento, evolução.

Enquanto isso ocorre, o respeito pelo outro passa pelo olhar da compaixão, da generosidade, das atitudes fraternas e pelo sentimento de solidariedade. Nem precisaríamos saber das trevas que entristecem as almas das pessoas, bastaria que lhes oferecêssemos nosso silencioso apoio. E quem sabe, dependendo do nosso envolvimento afetivo, acompanhado de um abraço acolhedor. Talvez a máscara cedesse lugar ao alívio cura-a-dor.

Um comentário:

  1. Adorei a metáfora do sol e do varal de roupas. Muito bom traduzir sentimentos que muitos nem conseguem entender. Bjo

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