29/06/2009

NOSSOS MUITOS MAS NEM SEMPRE DEFINITIVOS PAPÉIS

Nascemos UM ser, mas desenvolvemos ao longo da vida vários papéis. Atuamos como seres sociais, em relação com o mundo que nos cerca, e acumulamos funções em cada diferente papel que desempenhamos. Nascemos filhos - podendo ser também irmãos - e nos tornamos além de netos, muitos outros. Nos transformamos de acordo com o contexto em que estamos inseridos e pelo contato com outras pessoas, e esses papéis se somam na mesma proporção que temos nossa rede de contatos ampliada. São os papéis familiares os primeiros que aprendemos a viver, de filhos, irmãos, netos, primos, sobrinhos, e afins. Somos pacientes do nosso pediatra, vizinhos dos moradores do mesmo prédio, telespectadores mirins dos programas infantis. Depois crescemos, vamos para a escola e ganhamos amigos, nos tornamos alunos. Surgem os amores da adolescência – adolescentes, mais um papel! – e somos namorados, estudantes, leitores de livros, aprendizes de toda natureza. Formandos, profissionais, empregados, chefes. Noivamos, casamos, parimos, criamos filhos. Viramos marido, esposa, nora e genro, pais, sogro, tios, sogra, avós.

Cada um desses papéis nos define, embora não sejam definitivos ou engessem nossos comportamentos, visto que somos reconstrutores assíduos de nossas experiências. Todo papel tem regras, onde se esperam comportamentos semelhantes que são intrínsecos a um conjunto de pessoas especificas num mesmo contexto – por exemplo o papel “mãe” e todos os atributos que regem seu papel: a que ama, a cuidadora, educadora, aquela que faz comidinhas e coloca limites nos filhos, etc.

Contudo, embora o papel seja o mesmo, são diferentes as formas de desempenhá-lo, pois seguem normas culturais, premissas e regras adequadas a cada contexto. Claro que há pessoas que agem inadequadamente em alguns papéis que desempenham, assim como abandonamos alguns escolhendo ter outros. Olhe para si mesma(o) e perceba quantos papéis desempenha hoje em dia. Muitas vezes utilizamos estratégias que nos permitem conviver harmoniosamente dentro desse emaranhado desempenhando nossas funções nem sempre da mesma maneira. Não temos o mesmo comportamento até mesmo num mesmo papel, pois podemos ser amigos mas ter mais intimidade e afinidade com uns do que temos com outros, e isso, por si só, já produz diferentes comportamentos. Somos os pais de mais de um filho mas agimos com cada um de uma maneira para ensinar os mesmo valores.

Note-se que é impossível desagregarmos parte de nós- diferentes papéis – de forma a desempenhar somente algumas das outras. Muitos papéis estão entrelaçados e assim permanecerão pois há vínculos e laços que não se desfazem, e exigem que os levemos pela vida afora, inseparáveis de nossa própria natureza humana. Podem gerar dificuldades e pedir sabedoria na coexistência com os demais, assim como produzem prazer, alegrias e vivências essenciais. E isso não anula papel algum, apenas exige que, momentaneamente, um ganhe evidência sobre os demais, entrando mais fortemente em cena para retirar-se ao dar lugar a outro, numa sucessão ininterrupta de vida. Somos assim, compostos pelas diferentes atuações que pedem o papel naquele momento, em determinado contexto. Não podemos esperar que se desfaçam, extingam ou desvinculem, somente que se transformem e alterem diante da evolução natural da vida. Ser pais de crianças é diferente de ser pais dos mesmos filhos crescidos, mas seremos pais desses filhos para sempre.

A maturidade mantém os papéis essenciais existentes ampliando-os e modificando outros, mas é uma fase do ciclo da vida de todos nós que provoca novas situações seqüenciais cujas características irão determinar novos comportamentos, como o papel de aposentados, idosos, gerando limitações que acarretam dependência e adequações.

Quanto maior o número de papéis que tivermos, mais inseridos no contexto social estaremos, o que requer mais disponibilidade e boa vontade na luta diária que é ganhar mais bagagem de vida, pois os papéis sofrem efeito cumulativo nesse processo que é viver. Observamos na atualidade papéis já incorporados na vida moderna, como os resultantes das famílias recasadas, tendo ex-maridos e ex-mulheres, padrastos e madrastas - que se já eram pai ou mãe, não deixam de sê-lo, agregam novos papéis no contexto amplo que inclui um marido ou uma esposa, novos familiares e amigos. É a chamada família extensa.

E esse movimento cíclico nunca se rompe, porque esta é a forma que a humanidade se organizou. E é através desses papéis que vivenciamos nossas emoções, nos conhecemos melhor na medida em que identificamos enganos, ajustarmos posturas, modificamos e corrigimos nossos atos. Crescemos, aprendemos e evoluímos.

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