12/08/2009

CASAL & COMUNICAÇÃO

Para atender o interesse manifesto sobre casais, pensei em abordar um tema comum na clínica - a comunicação - e suas dificuldades quase sempre não percebidas pelo casal, me lembrei da crônica Tênis e Frescobol de Rubem Alves. Por ser extremamente apropriada, sua reflexão me empresta a exatidão do que abordar. O casal talvez precise somente de uma “prosa” para refletir e caminhar em direção das mudanças, como Rubem sugere quando faz uso da analogia da fala (prosa). Ao ‘brincar’ com as palavras na crônica, ele se refere a dois tipos de fala: a tipo tênis, cujo alvo é o outro, pretendendo reduzi-lo ao silêncio, ter razão, ganhar na argumentação, convencer. Mas sempre termina mal, porque a parte ‘vencedora’ fica feliz, enquanto para aquele que perde, sobra a raiva e o sentimento de impotência. No frescobol é muito diferente, porque a felicidade do jogo está justamente no estar acontecendo, registrando um prazer permanente, prolongando as delícias do estar junto. Não existem adversários, mas parceiros afinados, propensos a colaborar com a performance do outro.

Para o autor, são dois os tipos de casamento: os do tipo tênis e os do tipo frescobol. “Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.”

Rubem lembra que Nietzsche defendeu a idéia de que “Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice?’ Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.”

De igual forma ele cita a história de Xarazade, que também tinha conhecimento do poder da magia das palavras.

Alves pondera que existem os carinhos que se fazem com o corpo sim, porém, há os que se fazem com as palavras. “É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: “Erótica é a alma”.”

Ele ressalta que o jogo de tênis é um jogo feroz, que procura derrotar o adversário. “E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua cortada” ou seja, fazer o corte na conversa, interromper o outro, derrotá-lo, deixá-lo fora de jogo.É a alegria de um e a tristeza do outro. Já no frescobol, para o jogo ser bom é necessário que ninguém perca. Se a bola chega torta o outro sabe que não foi de propósito e se empenha muito para devolvê-la de um jeito que o outro possa pegá-la. Não dificulta. Colabora. A bola do jogo são nossas fantasias, nossos sonhos contados sob a forma de palavras. E conversar é dividir com o outro esses sentimentos, tentar partilhar com harmonia. “Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.” Porque no tênis o que se busca é ter a razão, e o que se ganha em troca é o distanciamento. Nesse jogo, quem ganha sempre perde. No frescobol é muito diferente: o sonho do outro é preservado, reconhecido como coisa delicada, do coração. Quem joga frescobol é bom ouvinte, e neste jogo o que cresce é o amor e os dois ganham.

Finalizo sinalizando meu desejo de que a opção pelo frescobol traga a harmonia, o equilíbrio e a felicidade que todos buscam nos relacionamentos. Reitero o que o autor salientou: o tênis é um jogo feroz, o frescobol envolve o cuidado com os sentimentos, os sonhos do outro. Os casais podem escolher gestar e parir um relacionamento feliz, e ainda que envolva a dificuldade na construção dessa configuração de comunicação ideal, é possível. E bonito de se viver!

2 comentários:

  1. Muito bons os seus artigos - li todos. Temas atuais que seria bom todos lerem, fazerem uma reflexão e sairem do desconhecimento de si. Sugiro a você ler: A alma imoral de Nilton Bonder.
    Heloisa

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  2. Obrigada, Heloísa, pela presença e pela sugestão.
    O blog está sendo construído sem pressa, e é gratificante ver os resultados.
    Está anotado o livro, vou incluí-lo na lista dos que pretendo ler. Nunca é demais conhecer, aprender, buscar o novo.

    Um abraço,
    Denise

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